As imagens feitas em preto e branco, de grandes dimensões, demonstram a profunda relação de devoção dos haitianos adeptos do vodu com elementos da natureza. A entrega, a pureza, o transe e a força dos cultos de transcendência são revelados neste trabalho. “Busco entender o homem através de imagens que se revelam no decorrer do meu caminho”, afirma Cravo.
A exposição Nos Jardins do Éden fica em cartaz na Galeria da Caixa Cultural até 4 de agosto.
Entrevista
“Faço da minha visão um instrumento para contar uma história”
O fotógrafo baiano Christian Cravo busca, por meio de seu trabalho, entender o ser humano e “representar o homem numa estrutura iconográfica.” Um exemplo deste desejo é a exposição Nos Jardins do Éden, que reúne imagens captadas no Haiti entre 2001 e 2010. De suas viagens pelo mundo, Cravo já publicou livros retratando a vida e a fé no sertão brasileiro (Irredentos, de 2000) e sobre a cultura negra na Bahia (Roma Noire, Ville Métisse, de 2005).
As imagens que fazem parte de Nos Jardins do Éden foram tiradas no Haiti. Como foi o acesso aos rituais religiosos? Quanto tempo você trabalhou no projeto?
Fiquei 9 anos ao todo, porém, não de forma continua. Trabalhei intensamente entre 2001 e 2003, e depois entre 2007 e 2010. Como fotógrafo, busco entender o homem através de imagens que se revelam no decorrer do meu caminho. Faço da minha visão um instrumento para contar uma história que é, acima de tudo, “humana”, e, a partir de temas definidos, procuro representar o homem numa estrutura iconográfica. Neste sentido poderia falar sobre qualquer um dos temas que venho trabalhando desde 1991. No caso do Haiti, falamos de uma sociedade com características muito particulares, intensamente espiritualizada e repleta de simbologias. É realmente incrível.
Quantas fotos fazem parte da exposição?
São 70 imagens ao todo neste projeto, todas em grande formato, mas, para esta mostra, tanto o formato quanto a quantidade foram reduzidas para 49 imagens, com tamanhos entre 50 por 60 centímetros e 70 por 100 cm.
Como escolhe os temas para os seus ensaios?
Meu ponto central sempre foi o ser humano, e percebo que é neste ambiente [religioso] que o homem se manifesta da forma mais íntegra e bonita. Por outro lado, me interessa muito a cultura, a história. O Haiti é um país intensamente espiritual e fascinante, cujo passado de resistência é único na história mundial. Não há outro país nas Américas cuja população se manteve tão fiel às tradições africanas. E é justamente essa a base para tudo que representa hoje o Haiti.
E de que forma trabalha esses assuntos?
É a partir deste interesse que acabo de mencionar, que é puramente humano e estético. Obviamente um tema acaba levando a outro. Na verdade, vejo todos os trabalhos que fazemos ao longo da carreira como sendo pertencentes a um grande projeto.
Quais são suas influências fotográficas?
Gosto de muitos fotógrafos, mas creio que é na pintura que busco minhas maiores inspirações. Rembrandt é meu maior ídolo.
Está trabalhando em algum projeto no momento?
Agora estou na África fazendo um grande trabalho sobre a natureza no continente.
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